No mês passado, Dimenstein assinou um artigo na Folha de São Paulo, jornal de maior circulação no país, que parece ter feito o Paraná ver algo que só os paranaenses não haviam visto. Como se depois de longos anos de ufanismo e muita propaganda governamental as pessoas acordassem e vissem o mundo como ele é. No artigo “Curitiba dá pena” Gilberto atenta para o fato de Curitiba ser a capital mais violenta do país, que tem mais homicídios, que há mais violência no “Brasil que deu certo” do que em cidades reconhecidamente violentas como Rio e São Paulo. A partir desse artigo os poderes acordaram, a Gazeta do Povo, maior jornal do Paraná passou a intitular suas matérias com “Dá pena”, e a prefeitura de Curitiba criou uma secretaria especial contra drogas.
Tudo foi criado a partir de um artigo de pouco menos de uma lauda. Os números não mudaram, morre tantas pessoas quanto dantes, o que ocorre agora é que estamos com os olhos abertos para vê-los.
Leia abaixo o que escreveu Dimenstein:
Foram registrados 26 assassinatos em Curitiba e em sua região metropolitana entre sábado e terça-feira, período do feriado do Carnaval. Esta é mais uma informação para justificar o título desta coluna: Curitiba dá pena.
Dá pena porque nos acostumamos a admirar aquela cidade como um laboratório urbano de civilidade, especialmente para as nações mais pobres. Muitas das invenções curitibanas se propagaram pelo mundo –mas a violência atinge sua imagem, revelando uma desagregação social combinada com ineficiência policial. A civilidade de uma comunidade começa pelo direito à vida.
A matança do feriado apenas reforça o relatório, divulgado na semana passada, com base em dados do Ministério da Saúde. A taxa de assassinatos é de 49,3 por 100 mil habitantes em Curitiba, muito maior do que a média nacional –a linha do homicídio, segundo o documento, cresce a cada ano. Mesmo considerando a possibilidade de desvios estatísticos apontados pela Folha, a cidade está pior do que São Paulo e, na melhor das hipóteses, igual ao Rio.
Curitiba é mais um exemplo do poder avassalador da epidemia da violência, abalando sua imagem de cidade modelo –é uma pena não só para eles, mas para todo o país.