E chegou o tempo que muitos preconizavam, mas poucos queriam ter coragem de dar o primeiro passo, o Atlético deu! Cobrar as transmissões de rádio por seus jogos, e não importa onde é o jogo não, não importa se a equipe foi ao estádio não, transmitiu, falou o nome do Atlético, pagou! Ok, não é tão exagerado assim, as rádios tem o direito de transmitir no máximo 3% do evento em caráter de informação.
Com uma decisão como esta o Atlético escancara algo que talvez não fosse perceptível aos olhos do ouvinte, as rádios de um modo geral estão falidas e cada vez mais sendo vendidas a grupos religiosos. Cada denominação quer ter a sua emissora, não tem prefixo para tanta gente.
O caso ainda nos mostra outra faceta do rádio atual. Quem ainda não foi vendido “dá” seus espaços para quaisquer aventureiros que queiram e tenham dinheiro para fazer um programa. É um dos poucos casos em que os dois lados têm razão:
Tem razão o Atlético em querer cobrar por seus jogos, afinal ele é quem paga a conta do time, é ele quem organiza o espetáculo e é o Atlético quem terá que suportar as cobranças da torcida motivadas principalmente por comentaristas destas rádios que agora não pagam nada pelas transmissões.
Mas também têm razões as rádios, porque é ela quem fomenta as paixões, quem cria o chamado “clima” para o jogo e é a rádio que mantém profissionais que se dedicam diuturnamente para a cobertura dos jogos, esse é o caso dos setoristas.
Mas quem tem mais razão?
Difícil dizer, talvez sejam discutíveis os valores cobrados, talvez seja discutida a maneira como foi colocada a cobrança meio que de supetão sem sinalização de datas para as emissoras que tiveram pouco mais de um mês para acionar seus departamentos comerciais e tentar viabilizar a venda desses direitos.
O rádio já viveu épocas áureas, tinha muito mais respaldo e credibilidade que a televisão e na minha humilde opinião, podemos colocar o fim de todo esse glamour na conta de José Sarney. Eu tinha apenas oito anos quando Sarney tentando aprovar (e conseguiu) aumentar o mandato que a morte de Tancredo o reservou. Sarney distribuiu tantas concessões de rádio que elas mais pareciam uma grande feira livre em que quem tivesse mais votos e garantisse maior apoio no Congresso ganhava a sua. O que antes era um empreendimento levado a frente por empresários e associações de comerciantes de uma determinada cidade, virou moeda de troca política. No momento em que politizaram o rádio, começou a sua morte lenta e doloroza que termina com a mendicância de valores para a transmissão de um evento esportivo.
É triste, mas faz parte da sucessiva histórias de erros do país, que se apresenta como potencial grande, mas com atitudes ainda coloniais.