A morte de um símbolo

Uma das mortes mais tristes que vi nos últimos anos foi a do estudante pernambucano Alcides do Nascimento, morto por engano, na sua casa, na sua pobre casa. Alcides tinha todas as desculpas do mundo para ser um “ninguém” ou um “bandido”:  Sua família faz parte do excluídos sociais, a mãe, catadora de lixo, o pai fugiu, ele, preto, pobre e catador de lixo.

Inúmeras vezes acompanhou a sua mãe em busca do sustento do dia, esperando que a burguesia pernambucana lhes proporcionassem bastante lixo reciclável para ser vendido. Apesar de analfabeta, a mãe de Alcides, tinha a maior das inteligências: ela sabia ler o mundo a sua volta e entendia que enquanto o seu filho continuasse a acompanhando  ele teria o mesmo destino que ela, então mandou que estudasse, assim ele fez.

Continuou acompanhando a mãe, mas sempre com um livro nas mãos. Imagino que sentia até certo remorso por estudar enquanto sua mãe trabalhava. Valeu a pena.

Seu estudo lhe valeu o primeiro lugar no vestibular, virou orgulho da família, do bairro e da universidade que estudava. O reitor pessoalmente acompanhava a vida e o desempenho do rapaz, que sempre com contava com orgulho que sua mãe era uma catadora de papel, não se acanhava e muito menos se envergonhava da atividade que o trouxera até ali.

Numa fatídica tarde de sábado, o vizinho devedor do tráfico de drogas se livrou da morte enquanto, Alcides era confundido, baleado e morto. Com ele morria um símbolo, um símbolo de superação, de que vale a pena lutar por um dia melhor, por uma vida melhor.

Alcides era a identidade de um povo que sonha, mas que pouco faz para vencer e conseguir alcançar esse sonho. Alcides era mais que um estudante pobre que passou em primeiro em um concorrido vestibular, ele era aquilo que todos poderíamos ser se fizéssemos por onde, vencedor!

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