Se tem uma coisa que a maioria dos recrutadores ou gerentes concorda é: nossos jovens estão cada vez mais preguiçosos. E não falo isso no sentido ruim da palavra, o que neste caso seria até mesmo um alento pois não passaria de uma curva a ser corrigida, falo isso como uma cultura que passa a se instalar no subconsciente das pessoas, das coisas que não eram e passaram a normalidade total.
Trabalho, como vocês sabem, na área da comunicação, estou nesta jornada de gerenciar equipes há uns 10 anos e tenho acompanhado de perto esta mudança, desde coisas bem simples até mesmo as mais complexas. Lembrem-se estou falando de generalidades e não de pessoas específicas, é a popular generalização mesmo. Coisas simples como descobrir algo novo tornaram-se quase que um dilema na vida dos jovens.
Perguntas que o Google pode responder a um clique, ou sua organização a menos que isso, viram motivos de atrasos e discussões. Um exemplo para vocês entenderem do que estou falando. Você trabalha em uma empresa há certo tempo, em teoria conhece tudo sobre ela. Aí chega o “novão”, quer e tem que aprender, ok. De repente ele olha pra você e pergunta: qual é o telefone daqui?
Ok, a empresa é grande e pode ser que existam várias linhas. Ok, ele ainda não se acostumou ao jeito rápido do trabalho e não pode entrar no site ou no Facebook da própria firma e conseguir a informação por si só, você, claro, responde, afinal, por que não? Uma pergunta tola, despretensiosa que não levará mais que alguns segundos para a resposta. No dia seguinte, adivinha… a mesma pergunta. Poderia ter anotado? Sim. Poderia ter procurado? Sim. Poderia ter guardado na memória? Sim. Mas, ok, a pessoa é nova, tem muito que aprender, afinal… não serão mais que alguns segundos. Mas, e sempre tem o mas, um novo dia e a mesma pergunta, agora acompanhando pela palavra “mesmo”: – qual é o número da empresa mesmo? Nada mudou, os segundos para a resposta seguirão sendo os mesmos das outras vezes, mas o viés da resposta é diferente, a resposta fica mais grosseira, muitas vezes acompanhada de uma crítica: – Mas você ainda não anotou?
Qual é o problema aqui? Não é de maneira nenhuma o jovem perguntar várias vezes a mesma coisa, mas sim a cultura que está implantada nele, a de receber tudo que está fora do seu “status quo” de terceiros e não do seu próprio esforço. Cada vez mais ele fazem o que querem, o que gostam e não o que precisa ser feito. Isso não precisa estar direcionado apenas para o trabalho, mas também para casa, para suas atitudes e até mesmo para atividades domésticas. Sou estudante e não lavador de pratos.
O lado bom, se é que podemos chamar assim, é que os jovens estão cada vez mais brilhantes em sua área de atuação, conhecem o “cego dormindo” e vão muito bem no que fazem, os que sofrem são os profissionais sem talento. Acredito que em uma carreira profissional bem sucedida 90% trata-se de suor, 5% de talento nato e 5% de genialidade, é no último item que separamos o MC Gui do Beethoven, ambos tem talento no que fazem, mas um é gênio, outro não.
Enfim, o jovem de hoje em dia começa cada dia como se tivesse um talento nato de 90%, pensa que os 10% que faltam são referentes a uma genialidade que ainda irá desflorar e esquece, ou ignora, que é necessário o suor, que é necessário o trabalho, a pesquisa e que principalmente a preguiça tem que ser deixada de lado. Que o seu texto não é tão genial que não careça de uma releitura, que a sua gramática não é tão precisa que não necessite de uma revisão, que a sua medida pode ter deixado um centímetro a mais em uma das pontas.
Acreditar no próprio potencial é importante, saber do que é capaz, ainda mais. Mas saber patrulhar o próprio trabalho, ainda mais. Já escrevi em outra oportunidade aqui um mantra empresarial verdadeiro: as pessoas não são demitidas, elas se demitem, sempre, sem exceção. Trabalhar, policiar a si mesmo, ter como meta baixar a zero o número de erros previsíveis e acima de tudo, buscar novas informações e mais aperfeiçoamento o tempo todo só vão fazer com que você complete os 90% do suor, não tem nada a ver com os outros 10%, sobre eles, temos qualquer domínio.