Sofro de uma doença crônica: tragédia anunciada. Acho que herdei da minha mãe. Enquanto meu pai vivia no mundo ideal de Platão, ou pelo menos vivia esse sonho com a certeza de que tudo em algum momento daria certo, minha mãe sofria por antecipação.
Contas que iriam vencer, doenças que estavam por vir, problemas que fatalmente se apresentariam, tragédia anunciada. Graças ao bom Deus, na maioria das vezes tudo não passava de um medo sem cabimento, um exagero proporcionado pela inocência ou simplesmente pelo medo do desconhecido.
Também sou assim, tenho coragem para coisas absurdas, mas me vejo agonizando por algo que nunca aconteceu. Desenho em minha mente as piores situações e faço delas realidades rápidas, depois passo longo tempo tentando convencer a mim mesmo que aquilo que inventei não passa de um louco delírio.
Isso é estranho para um incorrigível otimista como eu. Sempre acreditei que tudo pode dar certo no final. Tento me convencer o tempo todo que o pior dos cenários não indica a pior das situações. Soa estranho tudo isso e até mesmo incoerente, mas entender o que cada um tem por trás de um sorriso, talvez seja a chave para entender seu padecimento ou seu sucesso.
A incerteza é a pior das mortes.