Peço licença a Gazeta do Povo e publico a coluna de Cristóvão Tezza, desta terça-feira em que ele fala do ano de 2139, é simplesmente sensacional, confira e dê sua opinião.. Para quem não o conhece, ele é um dos mais respeitados escritores paranaenses, vale a pena pesquisar a respeito.
Foi recebido com festas em Manaus o elegante sueco Ollof Hölstrom, diretor-presidente do consórcio escandinavo que arrematou a Amazônia no leilão internacional destinado a torná-la o maior Parque Temático do Mundo. Depois do plebiscito local que aprovou a internacionalização por 93% dos votos e contou com o apoio maciço do Grupo das Nações Caboclas e Indígenas (GNCI) da região, o governo de transição já procedeu à transferência de fundos que despejará 400 bilhões de novas patacas em obras de infra-estrutura, apenas no primeiro ano. Prevê-se que em 2140 a Amazônia já esteja recebendo um contingente mundial de 5 milhões de visitantes/ano, que poderão percorrê-la em tubos magnetizados de alta velocidade, e participar de visitas virtuais às atrações amazônicas. Os hotéis ficarão suspensos a 50 metros da Área Natural Reflorestada, e todas as cidades da região serão isoladas do parque, transformando-se em pontos de reabastecimento e lazer. Haverá monitoramento diário da produção de oxigênio. O GNCI – hoje representado pelo Comitê de Valorização da Vida Natural, com sede na Mongólia – ficou satisfeito com o acordo, que lhe permitirá, entre outras vantagens, a exploração de cassinos em reservas especiais, em co-gestão com os caciques da República de Nevada, na América do Norte, detentores dos direitos sobre o franchising global.
O Consórcio Chinês foi desabilitado da licitação pela Central Única das Nações porque já controla o Parque Temático Centro-Africano, que ocupa grande parte da África e vai do Oceano Atlântico ao Oceano Índico, o que lhe vedava concorrer pela cláusula pétrea da livre concorrência (conhecida por “Selo Adam Smith”). Ficou fora do acordo o tenso Enclave Paraense, ainda sob a virtual presidência de Juvenil Maria Barballo, líder da célebre MM, a Milícia Militante, que recentemente declarou a independência da região e está reivindicando reconhecimento junto à Central das Nações. Seu grande trunfo até aqui tem sido a exploração de poços artesianos no deserto do Pará do Sul (que engloba a Fazenda Tocantins e parte do antigo Maranhão), pertencentes à família do líder, que fornecem água potável à população remanescente a preços competitivos.
Sobre as notícias de que a implantação do Parque Amazônico levará a uma invasão de trabalhadores ilegais vindos das fronteiras do Velho Brasil, Höllstrom demonstrou tranqüilidade, do alto de seus dois metros: “Nosso consórcio está interessado em implantar Parques Etno-temáticos em todas as regiões do continente. Ninguém ficará desempregado.” Em Brasília, a compra foi recebida com festa pelo lobby escandinavo, com protestos pelo lobby chinês, que promete conseguir a anulação do processo, e com discreta satisfação pela ativa bancada dos senadores Honoris Causa, que garantiram cadeira no Conselho Amazônico, por enquanto sem direito a voto.