Daqui a pouquinho vou começar achar que eu entenda alguma coisa dessa coisa que chamamos de mundo.. Por quê? Se você clicar aqui, vai ver que antecipei em alguns meses algo que só não via quem não queria, os Fantasmas de Curitiba estão a solta. Estes “fantasmas” são aqueles moradores de rua que insistimos em não ver de jeito nenhum.
Ontem parado no “tranqüilo” trânsito curitibano jogando conversa fora com o amigo Tramujas Junior e com o meu braço para fora, ato constantemente reprovado por todos que andam comigo de carro sob o pretexto de que é “muito perigoso”, um desses fantasmas veio falar comigo:
– tem uma moedinha aí senhor?
– rapaz fim de mês…tem nada não !
– e o caretinha?
– caretinha? (acreditem eu não sabia o que era)
– é o cigarro!
– cara você tá com azar hoje, eu não fumo?!
– mas em beguisinho (sabe Deus se é assim que se escreve) você fuma né?!
– se eu não fumo nem o caretinha…
– ah…fazer o quê?! Valeu gente boa!
– um abraço! Vai com Deus!
E com um aperto de mão encerrou-se o rápido diálogo com o feliz transeunte daquela rua no bairro das Mercês. O senhor que do jeito mais provinciano possível não tive a curiosidade de pedir o nome, seguiu com sua vida com uma expressão de extrema satisfação pela atenção que lhe foi dispensada.
Ontem, o MDS (Ministério de Desenvolvimento Social) divulgou uma pesquisa que avaliava os moradores de rua de 71 cidades. A capital social do Brasil ficou em terceiro lugar em número de moradores de rua com pouco mais de 2000 moradores. A prefeitura no estilo “não fui eu” disse que os números são um absurdo, foi cometido um engano na apuração do dados e blá blá blá.
A pesquisa revelou também outros pontos interessantes, apenas 15% deles pedem dinheiro e 70,9% desenvolvem algum tipo de atividade remunerada. O alcoolismo, o desemprego e os desentendimentos com familiares são os principais motivos que colocam estas pessoas nas ruas>
Achar motivos que expliquem ou tentem justificar estes números, são atitudes típicas de uma cidade que não quer assumir o seu papel diante da sociedade, são ainda mais típicas da velha, porém sempre vitoriosa política romana do pão e circo, em que se dá para a cidade uma pretensa sensação de progresso e educação e a mesma lhe oferece em troca óculos escuros com visão especial e calçados inteligentes, para que não vejamos os fantasmas a poucos passos de nós e também para que não tropecemos frente a própria ignorância quanto ao bem estar alheio.