Outro dia me deparei nas redes sociais da agora celebridade, Pablo Marçal, ensinando seus “alunos” que ser bonzinho é uma das piores coisas que as pessoas fazem no seu dia-a-dia. Segundo ele, ninguém dá valor para o bonzinho. Ele sempre é deixado de lado.
”O bonzinho empresta o carro sem querer emprestar. Empresta dinheiro sem poder emprestar. O bonzinho não sabe dizer não”.
A grande vantagem dos chamados “coaches da prosperidade” é que eles sempre tem um ponto de partida que conversam com a maioria das pessoas. Quase que a totalidade da população já fez isso. Emprestou o brinquedo para o amigo porque a mãe mandou, dividiu o chocolate, enfim, exemplos não faltam.
Outro dia li o caso de um senhor que emprestou o carro para o cunhado (sempre ele) a contragosto, mas a pedido da esposa, e recebeu de volta batido em um guincho que nem mesmo foi pago pelo tal cunhado. O homem alegou que não tinha dinheiro e no melhor estilo “devo não nego, pago quando puder”, simplesmente deixou o senhor na mão. No mês seguinte, esse mesmo cunhado estava de carro novo enquanto o do senhor seguia na oficina.
Situações como essa falam ao coração das pessoas. O coach encontra eco em suas declarações, porque ninguém gosta de ser enganado, ser feito de trouxa, mas seguimos fazendo as coisas pelo “medo de dizer não”.
Também nas redes sociais influenciadoras vem ganhando a simpatia do público apenas por dizer “não”.
– Pode ficar até mais tarde?
– Não.
– Por que não?
– Por que eu não quero.– Vamos fazer uma vaquinha.
– Não.
– Por que não?
– Por que eu não quero.– Oi, Jê. Você pode cuidar do meu filho hoje por algumas horas?
– Oi, não.
– Por que não?
– Por que eu não quero.
– Mas você vai sair?
– Não. Vou ficar em casa mesmo…
Enfim… por que o “não” incomoda tanto a gente?
Outro caso muito comum é o empréstimo de dinheiro, principalmente por pedido de parentes e amigos. A influenciadora, jornalista, economista Nathalia Arcuri é direta sobre esse tema:
– Ou você diz não, ou dê o dinheiro. Nunca empreste. Não perca amigo por causa do dinheiro. Se você disser não, ele for seu amigo de verdade, continuará sendo seu amigo. Se ele não pagar, a confiança estará quebrada, nunca mais.
No livro “Sobre Fibras e Gente” que conta a história da fundação da GVT (hoje Vivo), um dos capítulos traz essa premissa. O fundador Amos Genish, um judeu, se surpreende ao perceber que somente a chefia falava em reuniões, como se houvesse uma proibição para os demais e também por perceber que brasileiro não falava “não”. Por mais absurdo que fosse o pedido, a gente inventava uma desculpa, tentava dar um jeitinho, mas dificilmente dizia, não!
Será que isso tem a ver com falta de educação? Ou não querer ser grosseiro, indelicado ou desrespeitoso com alguém? Baixa autoestima talvez? Talvez culturalmente seja por não querer ser “indelicado” ou “magoar” o outro dizendo NÃO, mas dizendo SIM, conte comigo, porém, na prática, zero ação, de nada ajuda.
Você não só vai sofrer por algo que não quer, como também fará mal feito o serviço, assim, ninguém fica feliz.
Steve Jobs, um dos maiores gênios da nossa época, era conhecido por seu temperamento explosivo e por ser rude, quando perguntaram sobre o assunto ele simplesmente respondeu:
”Eu sei dizer não!”
Sigmund Freud postulava que a personalidade é moldada, entre outros fatores, por desejos e necessidades das pessoas mais próximas.
Enfim, caro leitor. Sim, e muito legal ser querido pelas pessoas, mas sempre se pergunte: a que custo? Dizer não é uma habilidade necessária, não precisa se tornar o cara do “não”, antes de responder qualquer coisa, se pergunte:
– Eu realmente posso?
– Eu realmente quero?
Se a resposta para qualquer uma dessas perguntas for “não”, não faça. Você até pode perder algumas amizades, mas, vamos combinar, se perder amizade por conta de um “não”, talvez a pessoa não fosse tãooooo amiga assim, né?