O natal bate a nossa porta, pede passagem, via de regra o deixamos passar, mas a pergunta é: o que irá encontrar? Alguns deixarão as mágoas de 2010, usarão o tempo do “tempo” para dizer-lhe como sua vida é desgraçada, como as coisas só dão errado para si, tentarão convencer o mundo que há sim, um complô universal para prejudicá-lo.
Em algumas casas o Natal de deparará com a tristeza profunda, famílias consumidas por brigas, doenças, mortes violentas. Casas em que a esperança já não tem mais quarto fixo, faz pequenas visitas quase imperceptíveis. Nestas casas, o Natal se dará conta de quão importante ele é para o mundo e quem sabe, e somente quem sabe, anime aqueles corações a chacoalharem a poeira, tomarem coragem e dar a volta por cima.
Também há as casas em que o Natal encontrará a alegria, a união, a amizade. Nestas casas os presentes são vastos, as ceias ricas, as roupas novas e os risos constantes. Aqui o Natal não é mais uma data, mas “a data”. Porém, nessa casa, o próprio Natal se sente meio convidado. Ele se pergunta: e se eu não estivesse aqui, eles encontrariam outro feriado para comemorar? Virei um comercial de refrigerante representado pelo velhinho barbudo?
É claro, que há as casas em que o Natal se encontra em essência, cada vez mais raras, mas ainda existentes, nestas casas o Natal remonta o perdão, remonta a segunda chance, aquele tempo em que ocupamos nossas mentes com pensamentos positivos e solidários. Que convidamos alguém para nossa casa não porque a ceia é farta, mas porque sua presença enriquece a nossa alma. Aqui o Natal se sente em casa, talvez de fato seja a sua casa!
Uma velha parábola conta a história de uma senhora que cansada da mesmice das festas resolve abandonar tudo e sair em busca de uma nova razão para viver. No caminho encontra famintos e a eles dá comida, encontra doentes e os ajuda em sua recuperação. Encontra famílias dilaceradas pela morte, e os leva compreensão. Não importa quanto ela andasse, nunca deixava de pensar que aquilo já fora longe demais, não poderia mais se confortar com o peru na mesa e o sorriso forçado nos lábios. Muito tempo depois de ter começado a jornada, suja, cansada e já sem esperança encontra uma mãe que agradecia a Deus a recuperação do filho que segundo os médicos era dado como morto, aquela casa não lhe parecia estranha, mas estava velha e cansada demais para memórias tão remotas. Emocionada a mãe conta que já não tinha mais esperanças em viver. Sua vida tinha se resumido a decepções, mortes e doenças. Até que há algum tempo uma mulher apareceu na sua casa; trouxe conforto, ajudou a curar os doentes, ensinou-os novas formas de trabalho e principalmente devolveu aquela casa a esperança. A mãe lembrava que não entendia porque aquela mulher fugira de casa em busca de um motivo para o seu Natal, se ela mesma era a tradução do significado do Natal. A velha senhora, lembrou então que a mulher, era ela! Que passou tantos anos procurando um significado que o tempo todo esteve com ela. Voltou para o seu lar feliz, por ter uma missão que nem sabia que tinha, cumprida!
Nesse Natal, vou deixar a “casa” limpa para o “tempo” afinal, para cada reclamação que eu tenho, há mulher que agradece a cura do filho e outra que procura o significado do seu Natal. A alegria na verdade está em cada um de nós, basta tirarmos um tempinho para olharmos para nós mesmos!
Há dois anos o Natal me trouxe minha filha Ana Júlia, este ano trará o meu sobrinho Pedro. Agradeço todos os dias a sua presença!