Talvez ela sente a direita de Deus Pai…

Ontem devo ter visto uma das cenas mais tristes da minha vida. Parado em um congestionamento na Rua André de Barros, uma mulher, catadora de papel foi atropelada, ela, como a maioria das catadoras de papel com filhos os levava junto, ela deitada no chão, não sei com que gravidade de ferimentos, ao lado, o filho, aparentando uns dois anos, chorava, esperava que a mãe reagisse aos seus pedidos.

Não sei se o tempo me deixou mole demais, não sei se realmente a cena era chocante a tal ponto, não sei se a realidade bateu forte demais na minha cara, mas a verdade é que senti demais aquela cena.
A verdade é que vi quão sortudo eu era, no conforto do meu carro, ouvindo rádio, fazendo conjecturas de como o mundo é justo ou injusto não tinha idéia de como aquela pessoa, aquela família sofria. A páscoa bate a nossa porta, em cada páscoa, um sentimento de que as coisas podem ser melhores. Mas ano passa, ano vem e pouco fazemos para que a situação destas pessoas mude. Eu pouco fiz. Imagino que enquanto escolho que chocolate vou comer primeiro, estas mesmas pessoas agradecem por ter um prato de comida. Imagino que enquanto discuto conjecturas políticas, as pessoas só sabem que precisam do benefício do governo para não passarem fome.

Páscoa, tempo que comemoramos a ressurreição de Cristo, mas tempo também de lembrarmos de sua morte, de seu sofrimento, talvez esta mulher seja o Cristo atual. Mas não acredito que ela tenha muitas pessoas chorando por ela. Não acredito que sua morte trará uma nova ordem ao mundo. Talvez ela suba aos céus e sente a direita de Deus Pai.

O presente daquela criança é tão desgraçado quanto a tendência do seu futuro. Aquela mãe, ali na calçada provavelmente vai querer o melhor  para o seu filho,  mas ela tem condições de fazer essa distinção? Em sabendo, ela terá condições de proporcionar o melhor?

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