Era uma noite de quarta-feira e o Athletico estava perdendo para alguém, a coisa ia mal, então, no banco de reservas tinha um cara que a torcida odiava, Denys Marques. Como um torcedor irracional e então pouco afeito a minha própria segurança física, pedi aos gritos a entrada dele. Prontamente fui apupado pelos meus próprios companheiros de torcida.
Denys entrou.
Denys fez gol.
O Athletico venceu.
No meio dessa apoteose recebo uma ligação da minha noiva, o pai e os irmãos não poderiam mais ficar com um cachorro, Cherry precisava de um lar. O que eu achava? Aceitei desde que o nome mudasse. “Nascia” o Denis Marques.
Durante os 19 anos que conviveu conosco, Denis foi o amigo. Foi o parceiro. Fez treta quando mordeu quando não devia. Quando comeu o que não devia e nas 3 vezes que fugiu de casa sendo resgatado com a cara de quem não sabia o que estava acontecendo.
Denis viu o meu casamento. Viu o nascimento dos meus dois filhos. Viu o casamento das minhas irmãs e o nascimento da maioria das minhas sobrinhas.
Denis odiava ficar sozinho.
Houve uma época em que sua ansiedade era tão grande que ele machucava as próprias patas arranhando a porta em busca da saída. Com os anos passando, desistiu da porta, se acostumou. Passava o dia na janela da sala, entre a cortina, lembrava o filme Psicose, se você não olhasse direito, nem percebia, mas ele estava lá. O cachorro branco estava observando. O cachorro branco da janela. Virou ponto de referência em entrega dos correios:
PONTO DE REFERÊNCIA: Casa do Cachorro Branco
Era um puxa-saco inveterado da Ana, minha esposa, não importava o lugar que ela estivesse, ele estava junto. No banheiro? Sim. No quarto? Sim. Um dia a perseguiu até o carro, deitou e ficou quieto, quando ela chegou no trabalho: surpresa! Olha o Denis lá.
O Denis até saiu no jornal quando foi falsamente acusado de ser um poodle, um repórter coxa, talvez?
Ontem, o Denis se foi.
Missão cumprida, deve ter pensado.
Irradiou amor por onde passou, para as pessoas que o conheceram e que nos últimos anos o chamavam de vovô. Denis agora deve estar jogando outro jogo, deve ser titular. Deve estar correndo sem portas para arranhar na tal fazenda dos cachorros.
Obrigado, Denis.
Nós te amamos.