O que é pior: arrumar algo errado da maneira errada, ou nunca arrumar? A questão mostra-se polêmica mas prova que no Brasil o preconceito social ainda é muito mais forte do que quaisquer outras formas de discriminação.
Você por acaso viu o Ministro em algum dia da sua vida algum dos ministros do Supremo se manifestarem contrários ao uso de algemas para o Zé ladrão das couves? Ou ainda o uso de algemas contra a senhora que roubou o pote de manteiga do mercado? Eu pelo menos não vi. Mas devia ter visto.
Então o que ocasionou essas manifestações? O dinheiro! As pessoas envolvidas! A briga pelo poder! Quem manda mais apanha menos. Por anos vemos pessoas com maior poder aquisitivo entrarem e saírem de lugares privativos, serem recebidos em locais totalmente exclusivos e serem elevados a categoria de “doutores” por aqueles que crêem na justiça para todos.
Não que seja errado ter muito dinheiro, não é! Desde que esse dinheiro tenha sido conquistado com trabalho e honestidade não há nada de errado em dirigir um ótimo carro, morar em uma casa confortável ou ostentar roupas de grife, mas nada disso dá o direito a ninguém de ser olhado pelos olhos “cegos” da justiça com diferença.
No momento em que o próprio Supremo é citado em gravações, em que os papéis se invertem, no momento que o erro da Polícia Federal se sobrepõe ao crime dos poderosos chegou a hora de revermos todos os nossos conceitos enquanto nação. Fomos colonizados por portugueses que historicamente por mais de 3 séculos saquearam nossas riquezas, corromperam as culturas indígenas e nossos recursos naturais. Nos primeiros anos portugueses na Ilha de Vera Cruz bandidos, condenados e fugitivos foram enviados para cá, a fim de começarem a exploração. Assim nossa cultura foi esculpida, hoje tentamos mudar…mas ainda nos perguntamos até quando trocaremos espelhos por nossa própria sociedade…
Dizem, os Arautos, as Bulas e os compêndios, além da pretensa divina voz popular, que: A Justiça é Cega. A Justiça: aquela dama que tal analogia cegou com um trapo, talvez de linho, quiçá de Chita ou Seda Pura.
A moça férrea que, cega, empunha a Libra e a Espada, sentada altiva no Planalto Central.
Tal dama não consegue vislumbrar com seus olhos, talvez azuis, improvavelmente negros; a fisionomia , cor ou vestimenta de seu “cliente” ; mas suas narinas de traços finos podem aspirar a fragrância de perfumes magistrais, distinguindo-os do odor, sem encanto, do suor criado na labuta.
Ela com seu tapa-olho, que ilude o honesto, com promessas de eqüidade, utiliza também sua voz firme e impostada, diluída numa linguagem, que devido a sua avançada idade, antecede a todo Arcaísmo.
Ela indaga ao varão que ultrapassa a porta de sua alcova: “És tu homem de posse? Pois se és não temas meu poder, não entregues a contenda. Toma meu seio e sorva todas as benesses do meu encanto. Se te faz vontade, arrebata também, sob meu manto, minha virtude, que não padeço de preservá-la.”
A cortesã de luxo, como vemos, apesar de cega, mantêm o olfato e discurso apurados. Mas o maior prodígio da dama é a audição, comprovada maravilha. Se ouve o tom bem redigido e estruturado; o timbre de soberba, orgulho e outras vaidades, inerentes aos ocupantes do ápice piramidal , rápida e eficaz, apruma a balança e tece veredictos, lançando seus longos braços ao redor de seu amante. Mas, se, eficaz ouvido, percebe o sotaque da humildade, trava-se os sentidos, cega a boca, cala o ouvido, e os braços empunham o gládio em movimentos frenéticos, como cego em busca de obstáculos, tal qual nobre a repelir a peste. E nessa regência, com batuta de fio cortante, mutila partes, corta membros, não se entregando a cliente tão aviltante. Nega-lhe o colo, recusa-lhe o prazer do serviço.
Mas um, inebriado por sua beleza, escala seu dorso de granito, e estupra-lhe, com um beijo, a boca fria. Não para lhe provocar o gozo ou asco, mas para lhe inflar um pouco de humano.
EM VÃO. Como boa profissional do ramo não se deixa levar por sentimentos ou carícias. Só se seduz por tilintares, e que não seja das patacas comuns, que alimentam os sonhos em caça-níqueis, mas das moedas douradas, valiosas, nos casos em que dólar não houver.
Tal Dama alivia o prazer dos clientes banhados em áureo perfume, sem necessidade de ver suas faces carcomidas de chagas morais. Mas, não se deita jamais, mesmo com mais belo mortal, que exale o insalubre cheiro da pobreza.
E para finalizar, como é sempre bom, em casos de ditos populares e livros avaliados por milênios, concordamos: A JUSTIÇA É CEGA … mas cheira muito bem, obrigado.