Julia, uma carioca da Baixada Fluminense tentou falar com o filho pelo telefone e não conseguiu, o telefone parecia mudo. Tentou uma mensagem de texto, mesmo resultado, apelou para a internet, nada! Estava sem comunicação.
Matteo era o responsável pelo sistema de sinais de trânsito de Berna, na Suiça, sua manhã estava um inferno como há muito não vivia, os sistemas simplesmente pararam, era necessário o envio de guardas de trânsito para organizar a cidade, mas não havia tanta gente assim disponível, com a baixíssima criminalidade e a confiabilidade do sistema eletrônico, nunca fora preciso. O caos estava instalado.
Ainda que considerasse Julius um criminoso, os equipamentos disponibilizados por ele eram bons demais para serem ignorados, e a NASA era uma das muitas agências do governo que dependiam deles, mas, naquela manhã, eles não funcionaram, anos de pesquisa estavam simplesmente inacessíveis.
Assim o mundo todo parou por absoluto. Até mesmo China e Coréia do Norte que haviam propagandeado que não utilizariam sistemas de um “criminoso” estavam paradas mostrando assim sua mentira e hipocrisia.
Nada funcionava e as consequências foram imediatas. Como nos bons anos do início do século XXI o povo foi às ruas protestar contra a situação. Protestavam contra Julius, contra os governos e as instituições. Queriam de volta as facilidades a que estavam acostumados. Lojas eram depredadas, violência sem aparato policial para conter a fúria imprudente dos manifestantes.
Feridos começam a chegar nos hospitais, mas não há médicos, não há equipamentos funcionando, não enfermeiros, apenas uma estrutura física lembrando as pessoas de quando ainda ficavam doentes e não havia cura ou esperança. O mundo estava pronto para sucumbir, em apenas uma manhã retornou ao século XXIII, mas dessa vez com requintes de crueldade: ninguém sabia como fazer nada, como haviam se acomodado, não tinham conhecimento para qualquer coisa. Não sabiam sequer fazer uma fogueira para preparar um alimento, os fogões elétricos não funcionavam, a própria luz os abandonou.
A ONU ou a OTAN procuravam Julius desesperadamente, incentivaram os países a retirarem quaisquer tipos de sanções ao homem, ele deveria deixar de ser alguém procurado, as coisas estavam piorando rapidamente, a maioria deles aceitou a sugestão e fizeram convites públicos para que Stranger fosse até seu território, até mesmo os Estados Unidos que, em um jogo de cena, omitiu de seus parceiros que havia prendido Julius, que o tinha sob custódia e que pretendia segurá-lo quanto tempo fosse possível. Oficialmente ele seguia desaparecido, era agora alguém preso fora dos registros.
As acusações contra Stranger variavam de quem perguntasse, passava por roubo, participação em organizações terroristas, crime contra o sistema financeiro, enfim… ele praticamente zerava o sistema criminal dos Estados Unidos. Em seu primeiro depoimento, abriu mão de advogados e apenas repetia a pergunta:
– Que mal eu fiz?
A pergunta trouxe estranheza, pois ela também parecia uma interjeição.
A maioria dos investigadores ali presentes morava em uma das casas de Julius, utilizava o celular e a rede de internet de Julius e tinham uma certeza, aquele homem na frente deles parecia apenas mais um homem, não o maior de todos, não o dono do mundo.
A porta se abriu de repente se abriu e o próprio presidente dos Estados Unidos, junto a seus generais mais próximos, entrou na sala de depoimento. Sem rodeios o presidente exigiu:
– Traga de volta os serviços! Agora! Já!
Julius olhou para ele e novamente indagou:
– Que mal eu fiz!?
Continua…
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Primeira Temporada:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6