Colocam a “culpa” da falta de passageiros no transporte público nos preços dos carros, baixos, quando o correto seria discutirmos a qualidade do transporte oferecido a população.
Sou, segundo as estatísticas, um dos culpados pelo trânsito caótico de Curitiba, venho trabalhar de carro, sozinho (até já procurei alguém para dar carona, mas sem sorte) e vou para casa em horário de pico. Via de costume, uso o sistema público ao menos uma vez por semana, para poder avaliar, ter condições de escrever esse texto e claro, saber das “últimas” que todos os ônibus oferecem.
Mas vamos lá, quando venho de carro gasto cerca de 10 minutos para vir e cerca de 20 para voltar. Somando aqui, diminuindo ali o meu gasto é por “viagem” é de cerca de R$ 3. O meu carro tem som, posso trocar o cd ou ligar a rádio que quiser, não fico em momento algum “apertado” e posso a qualquer momento parar o carro, abrir o vidro.
Quando estou de ônibus, tenho que esperar cerca de 25 minutos para o ônibus chegar, quando chega, tenho que torcer que a fila que me separa da porta de entrada não “entupa” o ônibus antes de eu alcançar o degrau do desejo. Tenho que gastar R$ 2,20 para vir + R$ 2,20 para voltar. Tenho que enfrentar a cara feia do cobrador me censurando por eu não ter o cartão transporte e ele tem que me dar troco (se todos tivessem o cartão, para que serviria o cobrador?).
No trajeto, o ônibus para várias vezes tentando provar que Newton estava errado, e sim, é possível colocar mais de um corpo no mesmo espaço. Enquanto faço uma épica guerra em busca do meu direito de permanecer em pé e conseguir chegar ao meu destino, vejo pelas janelas que os carros estão na mesma “tocada” que o ônibus, na mesma pista e com a mesma velocidade, mas eles não estão apertados e sim, estão economizando.
Você pode argumentar comigo que a coletividade deve vencer a individualidade, e eu concordo, mas qual é o incentivo para isso? Não lhe parece razoável que nos horários de pico fossem proibidos os micro-ônibus? Não seria no mínimo inteligente que os ônibus gozassem de faixas exclusivas, ao menos em horários específicos?
Sim, eu gostaria muito de deixar meu carro todos os dias na garagem e poder usar o trajeto do ônibus em agradáveis conversas ou em enriquecedoras leituras. Mas enquanto o discurso vazio dos políticos se sobrepuserem a prática, continuarei sendo culpado pelo caótico trânsito de Curitiba.