Lembro de uma noite nos idos tempos da internet discada em Mandirituba quanto me deparei com uma comunidade no falecido Orkut difamando uma conhecida minha, nem era minha amiga, mas aquela noite senti como se fosse. Perguntei ao amigo Leandro, afinal de contas por que as pessoas fazem isso no Orkut então ele me respondeu uma das verdades mais absolutas. As pessoas não fazem isso no Orkut, o Orkut é que representa o que as pessoas verdadeiramente são. Nunca esqueci disso, e quanto mais eu conheço as redes sociais, mais é possível descobrir quão incríveis e imbecis nós somos.
Somos uma massa, grudenta, gosmenta, que não consegue existir sem estar conectado intimamente com outro. Nas redes sociais mostramos nosso melhor e nosso pior, normalmente nosso pior é mostrado quando tentamos mostrar nosso pior. Usamos a rede que em 3 ou 6 pessoas podia nos ligar a qualquer pessoa no mundo para difamar, mentir, nos envaidecer, ter inveja, causar inveja, curtir o mal e compartilharmos aquilo que fato desconhecemos.
Tal qual uma massa covarde e acéfala nos movemos para lá e para cá conforme o primeiro post que caiu na nossa timeline nos ordenou. Todo mundo é bom desde que alguém não o tenha criticado. Todos são maus aos olhos do primeiro comentário preconceituoso, maldoso, vil. Combatemos o que consideramos errado com mais erro, xingamos, ameaçamos, maldizemos, espalhamos. Ás vezes nem sabemos o fato, não conhecemos a pessoa e tão pouco frequentamos o lugar criticado, mas, por que não acreditar na pessoa? Por que tenho que ouvir o outro lado da história?
Nas redes sociais tudo parece ser exatamente como é postado, não há perguntas, uma cegueira abominável, intransigente e quem insiste em ficar em nossos olhos assume o controle. Tudo aquilo que aprendemos em casa, na escola, na faculdade ou na vida é esquecido. Compartilhamos as histórias mais absurdas sem questionamentos, o Deus do Facebook queima carros de ladrões, presidentes mandam derrubar aviões ou termos imbecis de privacidade são postados e compartilhados sem senões, um clique e pronto, tá lá, é fácil, ninguém critica, ninguém enfrenta, ninguém vê.
No anonimato de fakes ou mesmo na audácia revolucionária de um sofá mora um sujeito que por vezes é boa praça, por vezes você convida para uma cerveja no final da tarde e quem sabe seja até convidado para ser o seu padrinho de casamento, mas, o teclado, ah, o teclado, este maldito retângulo cheio de quadradinhos, ele funciona como um hipnotizador, a voz do lado direito que diz não pense, faça. A faca nas costas, a certeza do nada.
Quando isso vai mudar? Provavelmente, nunca, ao menos não nestas regras estabelecidas. Continuaremos a ler absurdos, continuaremos a ler “assassino” para pais de família ou “vou te matar” para o acusado de um crime qualquer. A certeza da massa é o seu tamanho, quanto maior o número, maior a coragem, quanto maior o absurdo postado, maiores as chances de ganhar mais likes. Afinal, o que seria a nossa vida se não fosse a constante competição dos likes.
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